sexualidade1     Manifestação da necessidade de intercâmbio afetivo entre os seres, a sexualidade trata-se de fenômeno mais complexo do que a simples continuação da espécie. Sincronia no vegetal, instinto no animal, embrião de novas conquistas evolutivas do futuro no hominal, na adolescência a sexualidade aflora mais intensamente manifestando possíveis perturbações do passado e ansiando por sua expressão em forma superior quando a serviço do amor.

“A libido, sob seus impulsos (do amor), como força criadora, não produz tormento, não exige satisfação imediata, irradiando-se, também, como vibração envolvente, imaterial, profundamente psíquica e emocional. Quando o sexo se impõe sem o amor, a sua passagem é rápida, frustrante, insaciável…” (Joanna de Angelis)

            André Luiz nos informa quanto à importância da epífise, cuja função não se restringe ao controle dos instintos sexuais durante a infância para depois se tornar órgão morto. A tão estudada glândula pineal segrega hormônios psíquicos ou “unidades-força” que controlam os sistemas sexual e endócrino, acordando, no período em questão, as forças criadoras da psique. Há, assim, uma recapitulação da sexualidade na adolescência, de modo que as paixões vividas noutras existências reaparecem como fortes impulsos.

No processo de educação do ser que se reinicia na experiência física é fundamental abarcar o sentido profundo do sexo, não se limitando ao conhecimento do corpo físico e suas funções. Conflitos, medos, anseios, harmonia imprimem matrizes emocionais, limitações orgânicas, exaltação ou deficiências na libido e possíveis preferências perturbadoras que necessitam de orientação.

            A função educadora é dos pais. Transferi-la a terceiros, ou mesmo à escola, é correr o risco do assunto ser abordado com irresponsabilidade. Fundamental se torna que as próprias figuras parentais busquem conhecimento, se beneficiem de terapêutica especializada, para que, seguros e sem repetir modelos castradores do passado, ou libertinos, tão em voga em nossa sociedade atual, possam se constituir em exemplos dignos de serem seguidos. Educar com alegria e naturalidade, sem excesso ou ausência de pudor e evitando informações para as quais não haja interesse do educando, é rota segura para desenvolvimento de harmonia na área da sexualidade.

            Diante da gravidez na adolescência, se faz imprescindível ao jovem assumir a responsabilidade com relação ao ser que renasce, pois se há maturidade para o ato sexual, há – ou deverá construir-se – a mesma para a maternidade e paternidade, através da consciência do dever. O aborto, que constitui grave trauma psicológico de consequências imprevisíveis, deve ser evitado, a não ser diante de risco de vida para a mãe. Ele não apaga erros cometidos por imprevidência, apenas dá lugar ao infanticídio, gerando novas necessidades de reparação.

            Assim, para compreender a sexualidade de modo mais amplo, não podemos desconsiderar a anterioridade da alma. Suas expressões variadas, atestando a bissexualidade psicológica do ser, com ou sem distúrbios, atestam a longa caminhada do Espírito e não podem ser julgadas de modo sensacionalista ou preconceituoso.

            Segundo a nobre mentora citada, qualquer força deixada em desequilíbrio, danifica e destroi. E a sexualidade tem conduzido a História da humanidade, de modo que hecatombes morais, sociais e espirituais, além de desastres bélicos, têm relação com líderes doentios que não conseguiram dominar essa energia que os alucinava. Já afirmava Joanna de Ângelis: 10 “Examine-se qualquer déspota, e nele encontrarão registros de distúrbios na área do comportamento sexual”.

            O sexo existe a serviço da vida, não a vida a serviço do sexo. Sofrendo a influência dos automatismos criados pela permanência nos instintos inferiores no decorrer da escalada evolutiva, cabe à razão a canalização dos últimos em prol da iluminação do ser. E ao Amor, cabe sempre mostrar a diretriz para cometimentos felizes.

Texto extraído do livro Conectando Ciência, Saúde e Espiritualidade, volume 1. Capítulo: Adolescência e Espiritualidade. Michelle Ponzoni dos Santos. Editora Francisco Spinelli.